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terça-feira, 22 de março de 2011

Geração à Rasca!?

Há dias que ando a pensar, mas não tenho tempo de escrever!
Andei “à rasca” mas com falta de tempo...
“Geração à rasca”!! Pensei e pensei, refleti e voltei a pensar desmesuradamente se quero ser parte desta geração!



Questionei-me...
Licenciei-me? Sim!
Há quanto tempo? Quase dois anos.
Trabalho na área? Não!
Gostava? Obviamente!
Estou na casa dos 25 as 35? Sim!
Estou em casa dos pais? Não!
Ganho o que gostaria? Não!
Ganho o correspondente a um licenciado? Não!
Tenho um bom horário? Não!
Tenho fins de semana livres? Não!
Férias? Não!              
Tenho viajado? Não!

Juro que percebo a indignação dos muitos milhares de jovens (que é minha também!). Para que serve a licenciatura?! Para quê queimar os neurónios a estudar para no final a resposta ser:
-Experiência na área tem?
-Não! (Como tê-la se saí agora da faculdade? E foram mais as horas que passei sentada numa cadeira a ouvir um professor a “despejar” matéria do que os exemplos práticos que tive... Como tê-la se, antes de a ter, ninguém ma dá?)
-Obrigada, nós depois ligamos e dizemos-lhe alguma coisa.
O telefone toca e atendemos com uma esperança desesperante que do outro lado alguém nos diga “a vaga é sua, começa amanhã e tem 30 dias para mostrar o que vale”! Uauu... Consegui! Vou dar o meu melhor, vou ser a melhor, trabalhar das 9h as 18h, ter fins de semana, ganhar dinheiro para comprar um carro, vou ter férias, viajar,, ter uma "rica" vida... Sim, porque vou ter um bom salário, e o meu chefe vai ser o máximo! Vou casar, ter 3 filhos lindos a quem vou dar o melhor...
Pois... Mas, isso nem sempre acontece... Raramente acontece!! Aliás, isso acontece mesmo?

Ou pior, dão-nos a vaga, porém... o que era para ser uma coisa afinal era outra, tentamos porque queremos começar, esforçamo-nos porque temos noção que temos que "começar de baixo"... Temos noção que  nos escravizam mas no final não nos pagam! Uns trocos, o que foi prometido, uns míseros trocos para pagar a renda, num quarto alugado, numa casa com meia dúzia de pessoas, com a mobília que deixa muito a desejar... Quando assim é, claro, quando queremos pagar um quarto longe de casa, quando fazemos esforços quase sobrenaturais, quando com um part time lutamos pela nossa independência longe de casa dos pais, do conforto de ter roupa lavada e cama feita! De dormir até ao meio dia, de ir para as noitadas para "esquecer" a nossa situação!

Marcam entrevistas, mas por vezes nem sequer se concretizam! E lá vão mais uns trocos nas viagens para cima e para baixo!!

Para muitos jovens da nossa geração “à rasca” é certamente mais fácil queixar-se, cruzar os braços (ou então levanta-los para protestar) do que arregaçar as mangas e trabalhar! Sim, meus amigos porque ainda há trabalho!!
Trabalho, não é emprego (e conheço muito boa gente que tem emprego e queixa-se também)!
Até no dicionário as definições ilustram o que se pensa.
Emprego: n.m. ocupação remunerada...
Trabalho: n.m. ato ou efeito de trabalhar, exercício de atividade humana (...), esforço necessário para que uma tarefa seja realizada...

Revolta-me, se eu conseguisse traduzir a revolta que sinto em palavras, quando alguém me pergunta:
-Então já arranjaste alguma coisa?
-Estou a trabalhar, mas não é na minha área (apesar de adorar o que faço!!)
- Tens que fazer por isso Cidália, tens que fazer por isso!
- ??????
Calo-me! Eu, que raramente engulo desaforos, calo-me!
E ainda passo por “coitadinha”!!!

Eu que trabalho numa área para a qual não estudei, sim, trabalho numa loja de roupa, no shopping e orgulho-me!! Não tenho emprego na minha área (Comunicação), não por ter desistido, não por não querer, não por não gostar, não por não me esforçar... Não porque não. Não tenho, não há, o meu último nome é Monteiro, não tenho “Cunha”... Trabalho para me sustentar, trabalho porque preciso, trabalho porque tenho contas para pagar, trabalho porque não consigo ficar de braços cruzados à espera do “meu” emprego, trabalho porque fui assim educada, trabalho porque tenho que trabalhar!

Por isso faço parte de uma geração tão à rasca assim?
Pergunto aos pais, avós, vizinhos, amigos, o esforço que fizeram!! Pois, se calhar havia mais vagas no mercado de trabalho, talvez... Perguntem-lhes se casaram e tiveram filhos nos imediatos de sairem das faculdades! A maioria sim! Se tiveram salários razoáveis (bons é raro!), talvez sim. Se quando começaram a trabalhar receberam o que mereciam? A maior parte das vezes, sim!

Mas... façam perguntas que nos magoem o ego!
Perguntem se tinham um sapato para cada casaco?
Uma carteira de cada cor?
Uns brincos a condizer com a pulseira?
Um relógio astronomicamente caro?
Perfumes caros.
Iam eles para a faculdade de carro? Carro! Não uma “lata velha”! Não me parece que houvessem carros estacionados em segunda fila nas faculdades, e parques feitos propositadamente para os alunos!
Se tinham telemóveis, bem sei, na altura não haviam, e os pcs eram um luxo!
Mas nós temos telemóveis, não pela necessidade de comunicar, mas por capricho... nós queremos o melhor! Luxo, vaidade! Não dá, temos o país endividado, mas queremos mais, temos um telemóvel para fazer chamadas, e até já dá para videochamadas, tem câmara fotográfica, mas queremos mais... o nosso vizinho tem o último modelo, nós já sonhamos com o próximo, porque temos a mania que queremos ser melhores... e ser melhores, meus amigos, é ser honestos e não andarmos de costas voltadas, devíamos ser uma geração UNIDA porque temos todos os meios a nosso favor!!
Mas a barreira entre uma geração “à rasca” para uma geração “rasca” está por um fio!!

P.S. Não pretendo de modo algum ferir suscetibilidades, nem quero com este post contradizer a luta de todos os jovens que se sentem injustiçados (também sinto)! Só não consigo cruzar os braços e sair para a rua com cartazes e dizer que faço parte de uma "Geração à Rasca"! Recuso-me a fazer parte!!

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